Morador de Ecatu constrói minitrator com peças de kombi

O que sairia da mistura de uma moto 150 cilindradas, uma Kombi, duas tampas de fogões e diversas quinquilharias? O lavrador Carlos Donizete Poli, 50 anos, transformou tudo isso em um minitrator. E ele funciona.

Ara a terra, carrega areia e pedra, transporta entulhos e eletrodomésticos pelas estradas e ruas do distrito de Ecatu, em Tanabi. Quem vê o veículo, fica interessado. Reação compreensível, afinal o veículo é cheio de detalhes curiosos.

O para-brisa, por exemplo, é feito com as tampas de vidro de dois fogões. Uma lata de sardinha é suporte para uma lâmpada interna. Espumas servem de assento. E a bateria fica ao lado dos pedais. A ideia da construção surgiu pela necessidade. Nascido em Tanabi, Carlos passou praticamente a vida toda no campo. Quando mudou-se para a cidade não se adaptou. Para o serviço render na roça, precisava de um trator. Faltava dinheiro para comprar um novo ou mesmo usado. Bolou o projeto e foi juntando peças. Trocava uma sucata que não precisava por alguma que pudesse ter utilidade. Aos poucos, foi transformando a ideia em realidade. Comprou a moto por R$ 750. Não modificou o motor, mas fez adaptações. Aproveitou ainda do veículo, da marca Dafra, as lanternas e o escapamento. A partida elétrica da moto também foi mantida, e ainda funciona. Só quando a bateria está fraca que é preciso dar partida no pedal (que fica ao lado do motor, na frente do minitrator). Câmbio, volante, pedais, rádio e os dois pneus traseiros foram retirados de uma Kombi. Encontrou o veículo em um ferro velho e arrematou. Não funcionava mais. Nem se lembra do valor. O resto das peças vieram de objetos variados. A maior parte não tinha mais uso. "Nunca somei, mas acredito que gastei em torno de R$ 2 mil.

Nunca deu problema

"Hoje, o minitrator ajuda Carlos sustentar a família, composta por ele, a mulher, Conceição, com quem está casado há 20 anos, e a filha, Daniela, 15 anos. "É o meu ganha-pão.Puxo areia e pedra, transporto móveis, fogão, geladeira e carrego entulho. Tudo isso aqui na vila. Também faço aração. Já cultivei roça de quiabo, feijão e amendoim." Pelos cálculos dele, o minitrator carrega até 500 quilos. Quando quer fazer serviço na roça, retira a carreta e encaixa o arado. Ele funciona manualmente, através de alavanca. Pretende, quando sobrar um dinheirinho, colocar sistema a ar. "Porque no braço é duro demais." Os serviços no campo são em terras de conhecidos ou na do pai, que fica próxima ao distrito.

O último deles foi entre as fileiras de café. Arou o terreno e agora vai plantar feijão e amendoim. Jura que, para serviços pequenos, o minitrator é melhor do que o grande.

"Às vezes, patina um pouco, mas por causa dos pneus que são velhos." Ele aprendeu tudo sozinho Aula de mecânica, experiência em oficina, ou qualquer outro meio de aprendizado.

Nada disso fez parte da formação do lavrador Carlos Donizete Poli. Estudou até o segundo ano do ensino fundamental. "Aprendi a ler e a escrever o básico e a fazer algumas continhas simples. Mas sempre gostei de mexer nas coisas, conhecer e entender." Essa característica não veio do acaso.

Foi compartilhada pelo pai, Nivaldo. Nem é preciso investigar muito para descobrir. Na varanda de casa, por exemplo, há uma máquina manual para esticar massas. Pois, para facilitar o serviço, Nivaldo introduziu um sistema elétrico, com o auxílio de uma engrenagem de um tanquinho de lavar roupas.

A intenção de Carlos, agora, é tentar vender o projeto e, com isso, arrecadar algum dinheiro para tirar outras ideias da mente. "Vejo gente com tanto dinheiro, que não faz nada. Eu tenho algumas ideias, mas não consigo colocar em prática." O próximo projeto é um minigerador de energia elétrica.





(Bruno Ferro – Diário da Região)