Zelador que tem plantação em cemitério em destaque regional
Zelador que tem plantação em cemitério em destaque regional
Publicado em: 12 de fevereiro de 2014 às 07:48
De onde vem o seu arroz? O do zelador Antônio Pinheiro Ribeiro, 63 anos, conhecido como Dez, é plantado e colhido por ele mesmo. A roça não é grande, tem o tamanho de um túmulo. Até porque fica no espaço tradicionalmente destinado a um e está cercado por muitos outros.
Antônio plantou arroz no espaço de uma cova do cemitério municipal de Monte Aprazível. O local, segundo o zelador, estava abandonado e nunca recebeu defunto. Nos registros do cemitério, não foi encontrado o dono do espaço. Resolveu, então, cultivar o grão. De tanto sucesso entre os moradores, resolveu que vai fazer uma galinhada quando tiver arroz suficiente. E vai convidar todos da cidade. Já chamou um amigo que cozinha bem. O convite foi aceito com uma condição: ele faz, mas não vai comer o prato. Sem problemas para Antônio, que diz ter a garantia de um grupo de amigos de que vão comer. “Quero ver se na hora vão ter coragem.” Se tudo correr bem, o rango deve sair no fim do ano ou início de 2015. A galinhada vai ser o fim do arroz, mas não foi este o propósito inicial. A intenção de Antônio era apresentar às crianças e até adultos como é a roça de arroz. “Muita gente não conhece e tem curiosidade.” O plano tem dado certo.“Todo dia vem alguém diferente ver a plantação. A discussão é sempre se teriam ou não coragem de comer, se não faz mal.” O arroz, Antônio ainda não comeu. Tem certeza, porém, de que não vai perder em nada para os plantados em roças comuns. Diz isso com base no pé de melancia que cultivou no ano passado. “Cresceu normalmente e estava muito boa. Ofereci para os outros funcionários, mas ninguém quis experimentar. Comi sozinho.”
A plantação de arroz foi iniciada em dezembro de 2013, em seis fileiras. Essa é a segunda plantação. A primeira foi feira em dezembro de 2012. A colheita rendeu 20 quilos. A maior parte foi dada a amigos e conhecidos que queriam plantar em suas casas. A segunda colheita deve ser em março. “Depois quero plantar novamente para ter arroz no dia de Finados.” Católico, mas sem frequentar tanto a igreja, Antônio acredita em assombração. Nunca encontrou alguma no cemitério. “Aqui só vem uns ‘nóias’ de vez em quando.” E não tem receio de plantar ao lado dos jazigos. “Não estou desrespeitando ninguém.”
Outras plantações e uma árvore frutífera
Antônio nasceu em Elisiário. Cresceu na roça e trabalhou por muito tempo em lavouras de arroz, feijão, milho, café e algodão. Passou por Mato Grosso, Goiás, até que em 1993 começou a trabalhar na Prefeitura de Monte Aprazível. Ficou por dois anos no cemitério, como zelador, e foi transferido para a Rodoviária.
Até que uma lesão no tornozelo o impediu de realizar serviços mais pesados. Teve de se afastar do trabalho. Inquieto, logo quis permissão para voltar à ocupação e pediu para trabalhar no cemitério novamente. Foi atendido e desde 2009 é zelador por lá.
A aposentadoria deve vir em alguns anos, mas nem pensa em ficar parado. Vai trabalhar até quando puder. Gosta do local. “Se pudesse fazia uma casa aqui dentro e morava. Não tem lugar melhor. Só tem paz e tranquilidade. Não há inimizades.” Além do arroz e da melancia, Antônio plantou algodão e um pé de pinha. O primeiro foi com o mesmo objetivo do arroz: mostrar a todos como é. Plantou, há oito meses, em uma outra cova vaga. A planta já cresceu e pode ser vista logo na entrada do cemitério. A outra árvore, de pinha, tem um motivo especial. Foi plantada ao lado do túmulo onde estão enterrados o pai, a mãe, um irmão e uma irmã de Antônio. Onde, futuramente, ele também vai morar. “Gosto de todos os tipos de fruta, mas a pinha é especial, é minha preferida.” A árvore, plantada recentemente, ainda deve demorar dois anos para dar frutos. Ele espera estar vivo até lá para poder experimentar. E quer continuar plantando de tudo um pouco no cemitério. “Se pudesse, enchia isso aqui de pé de frutas.”
(Bruno Ferro – Diário da Região)
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